27 de maio de 2011

Bailado de letras...

Há dias cheios de coisas!...
Há dias cheios de sentimentos, sensações, ideias, opiniões, palavras que me vagueiam na mente… vagarosamente como uma névoa que se instala devagarinho. Há dias vazios de tudo, e cheios de nada, cheios de sabores e odores, cores e afins. Há dias que as palavras me sobram nas mãos, e não tenho onde as colocar. Há dias. Há dias que não são como os outros, com luz e escuridão. Há dias cheios de razões, cheios de casos, cheios e vazios. Há dias que as palavras mascaram a realidade, omitem mentiras, enchem-se de medos e me fogem pela boca. Há dias. Há dias do tudo e do nada. Há dias cheios de pressa, mas afinal custam a passar. Há dias sem coragem e dias de força. Há dias que as palavras me dão um descanso, têm medo de me olhar nos olhos, outros há em que pausadamente me bailam no corpo como um desejo carnal de me devorarem. Há dias em que as letras não se encaixam em lado nenhum, deixam-se ficar amorfas e sem sentido juntinhas à alma. Há dias. Há dias que elas, as palavras, se revoltam e me explodem por todos os poros, de todas as formas e feitios. Há dias em que me enrolam, e me ferem como espinhos, colam-se ao céu da boca de forma pegajosa.
Há dias assim…

22 de maio de 2011

No vazio das minhas mãos...

Quando a noite se cobre de estrelas, e a luz da lua me ilumina o olhar, sobram pedaços de nuvens nas constelações da memória onde bailo contigo de mão dada. Onde o espaço dos teus dedos se entrelaça entre os meus numa dança sensual e dourada pela estrada solitária do coração, residente da alma, que flutua nos raios dum sol nascente nas profundezas do ser. E nos movimentos leves dum som não proclamado, prendo-me nas salgadas saudades de te tocar, do perfume que perdura colado na minha pele alva, do desejo deixado na minha boca. E num suspiro lançado ao vento, revivo nas asas do sonho, duma história inventada por viver, onde o tempo já não tem presa de chegar, onde pára para me acolher, onde me abraça e me envolve num doce desejo, onde as sombras se escondem, as palavras fazem sempre sentido, onde danço com as mãos vazias e plenas de mim, onde as emoções mais fortes são senhoras da vida, rainhas do universo e a nefasta melancolia dos dias, a paranóia de ser e ir mais além não têm mais razão de ser nesta existência, onde tudo é perfeito, e nada mais há a acrescentar…

18 de maio de 2011

No silêncio...

…volto a ser pássaro!
Corro velozmente ao teu encontro
Contra ventos e tempestades
E de repente…
Fico inerte, e paro à distância de um toque
Obscuro das palavras mudas
Salto vírgulas, encadeio-me nos parágrafos alinhados
Enrolo-me nas sensações que me deixam na boca
Apalpo cada contorno das letras que me compõem
Corro de novo, e de novo paro!
E fico-me pela admiração do enlace, entrelaçado
Nos desejos, nas carícias, nos olhares
Que as palavras me lançam pelo esgueirar
Dos livros, dos romances, dos contos e poemas
Com que me visto nas noites frias de verão!

… volto a ser estrela!
Constelações brilhantes riscados no infinito
Luz da vida, que atraiçoa a morte
Ultrapasso-te em vielas escuras do pensamento
Traço novas rotas dos cometas que os meus dedos
Vão desenhando com a tinta das memórias
Transformo os meus pés nas asas do vento
E liberto-me das correntes que me amarram o pensamento
Não! Não quero palavras em forma de promessas
Antes actos renovados que me tocam
Como abraços, apertos de mão e beijos
Com gosto intenso de paixão, luxúria e desvairo
Esmagados em sílabas sonhadas entre pontos e vírgulas
Entre o hoje, o ontem e o amanhã!

… volto a ser árvore!
Cresço, floresço e dou frutos
Semeados nas folhas brancas da vida
Faço sombra às nuvens da minha alma
Volto a fugir para dentro do peito
Para o calor do aconchego das ondas do mar
Nasço e renasço à velocidade das primaveras
Na esperança, na força e na vontade
De nunca morrer… porque sou eterna e imortal!
Brinco com as pétalas das rosas do campo
E toco levemente nas asas das borboletas
Refaço-me nas linhas traçadas pela luz do sol
Num bailado de sons com a lua e as estrelas
Onde os ramos das árvores não conseguem chegar
E voo lá no alto como uma estrela cintilante
Engano a liberdade…
…e volto de novo a ser pássaro!

16 de maio de 2011

Preocupação de mãe!

Qualquer mãe deseja sempre o melhor para os seus filhos, pelo menos o suposto é que assim seja, mas existem situações na vida que ultrapassam qualquer entendimento, qualquer vislumbre de razoabilidade racional quando entre um casal as discussões assumem proporções para além do concebível, para além do que um dia se imaginou viver. E pensa-se: valerá a pena? Será justo que qualquer adulto que tenha dois dedos de testa faça com que uma criança inocente passe pelo tormento quando um casal vai transformando num inferno o seu dia-a-dia? É normal e saudável que por força do egoísmo dos adultos uma criança tenha de assitir a uma guerra inglória?... Estas e tantas outras perguntas ficam sem resposta quando ao invés de um sorriso nos lábios e um brilho no olhar de tenra idade se vislumbra um olhar vago, uma lágrima caída de quem se sente rejeitado pela própria vida, como se não pertencesse a lugar nenhum. É legítimo uma mãe querer colocar a mão por baixo de todas as quedas que os seus filhos poderão vir a dar, mas não será legítimo colocar uma poça de lama para eles se enfiarem lá dentro. É legítimo que qualquer mãe desejando o melhor, esteja sempre lá com a mão estendida, e um colo que não tem tamanho, mas não é legítimo por força do egoísmo ignorar o sofrimento que infligimos aos nossos filhos de cada vez que um dos elementos agride o outro verbalmente, tentando tirar vantagem na frente de uma criança. É revoltante ver todas as situações que as crianças têm de assistir, por via de um casamento que termina mal, onde a razão deixa de imperar, onde nem os bons sentimentos já existem, e os adultos se esquecem de ser adultos,  passando de forma egoísta por cima dos sentimentos e desejos das crianças. O indicador dos divórcios é cada vez maior, estará talvez na altura de pensarmos duas vezes antes de colocarmos no mundo outros seres humanos para os fazer passar por este tipo de situações, e indo mais longe, será talvez melhor pensarmos e olharmos verdadeiramente para o que desejamos, para o que se pretende de um casamento, sem ilusões, sem máscaras, sendo verdadeiros, porque amor não acaba, o que acaba são outros sentimentos aos quais muitas vezes lhes damos esse nome, e que com o tempo se vão desvanecendo. Porque é verdadeiramente revoltante que no final de tanto sofrimento ainda se abandonem as crianças num orfanato como se elas não valessem, nem fossem nada… como se não fossem de ninguém, tornando-as orfãos de segurança emocional. Como se não tivessem sido carregadas durante nove meses no ventre de um ser humano!...

Participação no tema de Maio

11 de maio de 2011

Sem medo!

Ausência de medo, (in)controle de emoções
Visto-me de plumas de cetim,
Desbravo a seara do meu corpo com o teu cheiro
Tacteando mansamente cada pedaço de éden
Construindo pontes, saltando vedações
Percorro cada palmo da alma
Desnudando-a lentamente
Como quem despe um corpo quente
Cheio de si…
Perdendo-se na imensidão dos sentidos!
E na cadência da luz do sol, resgatado pela lua
Solto sorrisos pelos olhos, que te olham
E vislumbram nas sombras da memória
Presas por um fio de ardor, desejo e possessão!
Sou livre! Solto as amarras do silêncio!
Ah! Solto um grito lá do fundo
E imagino-me (te) dentro do meu peito
Sugando cada gota do suor rasgado
Nos céus da felicidade
Como um sussurro surdo ecoando… ao longe!
E com a força dum trovão!
Estremeço as mãos que me acariciam
Na liberdade de te (me) desejar
Levitando na doce sensação de florir
Em cada gesto de ternura, em cada palavra falada
Em cada abraço encontrado entre os teus braços
Em cada desejo escondido nos segredos
Da tua voz… deixando-se o corpo cair
Esgotado de tanto amor e prazer!
E na (in)finitude da razão
Esbarra-se o encadeado das tuas mãos nos meus lábios
Misturando o som, o cheiro e o gosto…
De te (me) amar em cada curva delineada
Pelas dobras da eternidade, quiçá do destino
Sem pressa, sem culpa, sem medo!...
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