30 de março de 2011

Ai de mim! Infinitas cores!

Ai de mim! Beleza infinita!
No alvor dos dias, ao cair da tarde
No amanhecer da noite, e na luz do luar
Saltos no tempo, segredos calados
Plantas sementes de amor puro, virginal
Que invadem as ruas, nas vozes em silêncio
Nas lágrimas que brotam das nascentes
Que cantam um murmurar de paixão
Embalando as sombras da lua!

Ai de mim! Candura indecente!
Não te enganes! Foge de mim!
Sou o frio, o gelo… e a água que derrete
Depois… ternura feita gente!
Corre! Apanha-me numa curva!
Ao subir do monte, na descida mais íngreme
E toma de um trago, sem sentires o gosto
A seiva que me jorra nas veias
E me contamina o bater do coração!

Ai de mim! Inocência desflorada!
Perdida na face rosada das flores
Folhas queimadas, flores nascentes
Galhos enrolados ao tronco da vida
Enroscados na tua alma mansa e pura…
Trago em mim, o sabor dos teus beijos
No corpo, o delicado prazer da luxúria
E nas mãos… nas mãos
A quietude do formão que me talha os dias
Minuciosamente, implantando a paz!

Ai de mim! Pureza divinal!
Passarinhos voam, e cantam…
Sopram levemente uma brisa de promessas sem fim
Quão vulcão adormecido, donzela impura
Abres as mãos vazias e esmagas-me o peito
Fecho os olhos… e evado-me nas asas vento
Num abraço, num afago lânguido
Trazes nos lábios um beijo envenenado
Dou-te a mão e peço-te: solta-me do destino!

26 de março de 2011

Escuto-me!


Perdemos-nos de nós tantas vezes, mas se abrirmos os braços voltamos a abraçarmos-nos… basta baixarmos os ruídos de fundo, e escutamos no silêncio a voz que vem do coração, aquela que por mais que tenhamos vontade de fugir, nunca nos deixa sós, nunca nos abandona, e tantas vezes fala de sentimentos que recusamos ouvir, quiçá, sentir… vivemos momentos, sentimos-nos e sentimos os outros, escutamos os silêncios dos olhares que nos rodeiam, e pensamos sempre que são dirigidos a nós, puro engano, pura ilusão do nosso olhar, do nosso coração solitário, que por mais que queiramos, somos simples mortais, isolados, encerrando no corpo um mundo por explorar… desejamos tanto ser felizes que somos enganos pela carência, pela solidão, pela falta de (des) amor, tantas vezes enredados pela paixão, que nos cega os sentidos, respondendo ao apelo carnal… mas será que amamos verdadeiramente os outros, ou transportamos para os outros as virtudes que não temos e desejávamos ter? Será que sabemos mesmo o que é amar sem condição, sem esperar que o outro nos ame de igual forma e intensidade? Ou amamos porque alguém também nos diz amar, e sabe bem a companhia, e retribuímos as palavras, que muitas vezes, não são verdadeiramente acompanhadas dos sentimentos mais profundos!?... Amar gratuitamente, será que existe? Ou será apenas um mero sonho, inalcançável, longe do que palpavelmente tocamos no dia a dia?... Precisamos urgentemente de amar como só a pureza das crianças consegue, sem olhar para os defeitos, sem valorizar as virtudes, sem procurar nos outros peças que nos faltam a nós. Precisa o mundo de simplesmente amar, para se salvar!...

24 de março de 2011

Segredos... silêncios!

Vai-te de vez!
Fora da minha memória!
Faz-se silêncio!...
Fica no ar o perfume da ausência do teu tocar
que lentamente me cobre o corpo nu.
Respiro o odor do teu corpo no ar
canto suor, dor e paixão.
E deixo-me embriagar na memória do teu olhar
Lambo a ponta dos dedos
Sabem a rosas... com um rasto de luar…
Numa voz fraca: grito!...
Entorpeço-me nas linhas dum romance mal acabado
Tranco-me no silêncio...
e anseio pela ternura do toque do teu desejo,
enrolada nos sons do teu prazer, do teu pecado!
Num sorriso inocente que passeia nos meus lábios
cruza-se o impossível, o improvável
e apagam-se as luzes!
Apenas os teus olhos me iluminam
e num sussurro quente e tímido
a tua voz proclama:
- Não pares! Fica onde estás!...
Acende-me!... Enlouquece-me!
E num sem ruído prolongado...
selam-se bocas em segredos quase eróticos!
Cai o pano, e destapa-se a alma nua
Descobre-se a ardência da volúpia dos corpos,
E numa voz fina e aguçada, ouve-se:
- Vem!... Desvenda-me num beijo...
Que o tempo esgota-se no infinito.
E mostra-me...
...a terra desconhecida que me invade
...o quanto te amei antes de te encontrar!
O silêncio quebra-se e a luz revela o teu vazio!

20 de março de 2011

Dança solitária!

Bem aventurada a esperança!
Que me carrega nos braços por te amar infinitamente
de outras épocas, dos tempos da eternidade.
Neste embalo, de um consolo angustiante
estendo os braços ao céu, e solto um lamento no ar.
Ao longe… o eco devolve-me o retorno
provindo dos teus lábios, que volta para me abraçar
em palavras de cetim e silêncios de veludo…
tecidos em terras do irreal
e imaginados nos milénios da era de encantar!
Perdida entre as estrelas cadentes
rogo à lua, ao sol e ao mundo
que me devolvam o teu rosto
me devolvam ao passado, à vida!
Qual razão de viver?!...
Encarcerada nas grades do tempo
na prisão da tua imagem que permanece em mim.
Abençoada a alegria e a paz!
Que povoam a minha face de sorrisos infindos
colhidos no teu jardim.
Atravessei os oceanos, rasguei tempestades
e enfrentei dragões de fogo, nas mais árduas batalhas
em busca do tempo perdido.
Mas em fúrias desmedidas me perdi
e em desejos me alcancei
só para te encontrar de novo dentro de mim.
Toco nas tuas palavras!
E peço à noite que me devolva os sonhos
que se encontram às escondidas dos corpos
cantando e dançando melodias sem fim
numa dança misteriosa de sentidos.
Em silêncio… baixinho!
Ouço-te de novo pulsar…
Chamo-te, clamo por ti!
Procuro-te por toda a parte
na ânsia de te sentir e amar mais um pouco…
nesta réstia de encanto divino!

17 de março de 2011

Sombras!

Neste dia de danças de sombras!
Fico-me…
Assim… deitada no chão frio e gelado
onde pisaste com teus pés de veludo
e adormeço a um canto da sala
em busca de ti no meu sonho!
Metade de mim clama o teu nome
a tua pele na minha
a língua dos teus desejos
que sem pudor atravessam o meu corpo!
E a outra metade…
afasta-te as mãos macias
que me provocam os arrepios
quase sempre sentidos em sussurros sem eco!
Larga-me…
…ou ama-me!
Em súplica te peço que rasgues
a maldição da vida, que está cravada no peito
e que me deixes chorar pelos dias
sombrios da existência que ficou à margem
dos meus sonhos!
Faz-te flor em mim,
neste semear balançado no vento
e verga-me aos teus desejos!
Assim, aqui e agora…
… neste segundo que me cega os olhos
mostra-me de que matéria efémera é feita
a palavra sagrada que guardas na alma
que me aquece em delírios de encantar
quando o meu corpo respira no teu
e a minha boca se alimenta de ti!

11 de março de 2011

Oh... doce salvação!

Oh… vida!
Esculturas rabiscadas nas sombras do sol
Dos ponteiros de um relógio parado
No tempo, e no espaço sideral
Nos segredos narrados nos teus lábios
Nas promessas malditas por cumprir
E lançados em suspiros da morte!
Oh… engano indecente!
Que lavras com tinta do meu coração
Este chão sem cor…
Num sopro de fantasia irreal
Busca em mim, em cada pedaço meu
A glória de outros caminhos mal traçados
Asfixiados entre os meus dedos
Quão espinhos de sangue
Na harmonia das palavras desditas pelos Deuses!
Oh… morte anunciada!
Quão longe vai a tua sorte
Lançada em sussurros nos meus ouvidos
Neste limbo da vida ensolarada
Pasma de acoites, cheia de vazios sem fim
Como náufragos em oceanos revoltos
Assolados pela má sorte, consumidos pela dor
Mergulho de olhos abertos num feitiço encantado
Da tua voz dócil entrelaçada na minha
Nas ondas que florescem no teu olhar!
Oh… cadência infinita!
Distante da minha afeição
Recua no tempo, e faz-me tua
Sem dor, sem pudor, sem perdição
Num bálsamo piedoso
Enxovalhado pelo perfume das rosas
Do toque das tuas mãos nas minhas
Na pureza das lágrimas invertidas
Esgotadas em versos desfeitos!
Oh… senhora do mundo!
Lançada na arena da vida
Guerreira de espada em punho
Corta-me ao meio, e entrega-me ao sonho
Nesta imortalidade de desdém
Que paira no ar… na neblina dos dias
Cumpra-se a profecia, acorda-me das sombras
E diz-me que nasci dentro do teu peito!

9 de março de 2011

Instantes!

Na calma da tarde desce o luar sereno
crescem alegrias nas estrelas
e o vento segue sorrateiro o seu caminho.
A noite penetra escuridão adentro
e lança nas árvores o seu manto escuro
cobrindo de doces sons, o frio que envolve o mar
num vai e vem constante…
E de mãos dadas…
no silêncio dois corpos se encontram
se misturam e dançam em cheiros de saudade,
num voo solto de liberdade
duas almas se reconhecem mais um pouco
e trilham um caminho desconhecido.
Tocam no sonho, tocam no impossível
na visão do passado projectado no futuro,
num instante sem retorno
sem volta ao principio, ao fim anunciado.
E seguem pelas pegadas da ternura,
num embrulhar de pura magia,
encaixando peças soltas do destino
onde o silêncio geme mais alto,
onde os sorrisos abundam no olhar profundo
e nos lábios renascem brilhos cintilantes
em palavras de paixão e desejo.
E a cada toque um fio de puro equilíbrio
onde a perfeição se funde e reina,
onde a solidão se rende por completo
abandonando a vegetação circundante
deixando apenas as carícias do olhar tímido da lua
estampado no negro da noite!

7 de março de 2011

Ao fundo!

Ao som do ruído morno do mar
Ao longe gaivotas passeiam no ar
No horizonte a neblina
Caminha na minha direcção
Suavemente envolve-me em seus braços
Beija-me a face e incendeia a alma
Deixa em mim um cheiro de maresia
Agarrado nas mãos vazias de cores
Quentes de notas musicais
De repente, numa espécie de salto no tempo
Uma réstia dos raios frios do sol
De inverno aquecem-me a pele
E no rendilhado da espuma
Deambula um corpo
Cansado da frieza dos tempos
Do retorno ao passado
Do romper dos traumas, dos dogmas
Agarrados na pele, presos na ponta dos lábios
Que já nada sabem cantar
E se encerram em melodias tristes
Em monólogos a duas vozes
No romper da aurora
Quebra-se o silêncio dos pensamentos
Solta-se um grito do fundo da alma
Que se entrega ao mar de braços abertos
Peito desnudo, olhar inquieto
Na derradeira onda de salvação

3 de março de 2011

Marcas para sempre!

Desta vez e porque o tema me inspira a algo mais sério, vou falar de violência, e esta veste tantas formas quantas a nossa imaginação pode alcançar, desde e violência praticada aos idosos em lugares chamados de “lares”, violações praticadas por mentes descontroladas, assédios laborais, violência contra as crianças, e como um dos exemplos mais marcantes da era moderna temos o bullying, e se pensarmos bem qualquer tipo de crime é uma violência à integridade humana, seja ela física ou psicológica. Mas optei por deixar apenas uma pequena nota sobre uma violência que andando de mãos dadas com outra passa tantas vezes despercebida e atinge de forma quase irreparável a suas vitimas. E estou a falar mais concretamente da violência doméstica, mas não a física, e palpável, que é facilmente provada em tribunal e em que as vitimas se podem livrar do agressor, falo daquela violência verbal, psicológica exercida ano após ano de um sobre o outro, não deixando quase ar para respirar, fazendo com que o alvo da agressão se sinta a cada dia mais inferior, ao ponto não se achar capaz de ser mais nada a não ser a sombra do próprio agressor. Essa violência tantas vezes encoberta, é reflexo da existência de mentes que se sentem inferiores, e que não conseguindo livrar-se desse complexo de inferioridade, o transferem para a outra parte, manipulando constante e continuamente até ganharem a guerra psicológica, e desse modo sentirem-se superiores aos outros. E podemos pensar que isso acontece só aos outros, e acontece a quem não é seguro de si, ou com baixa auto-estima, mas estamos enganados, este campo é demasiado frágil para acharmos que somos capazes de lidar com alguém assim, porque o perfil mais corrente é exactamente a procura de pessoas bem resolvidas, com uma cabeça feita, com uma excelente auto-estima, que com sua a simpatia, a extroversão o agressor consegue conquistar, para depois subjugar lentamente. E neste campo, não podemos dizer que esta situação se passa apenas do homem sobre a mulher, porque o inverso também existe, e qualquer marca deixada por uma situação destas é uma marca difícil de apagar para o resto da vida, porque toca na alma da gente!

Participação no tema de Março

1 de março de 2011

Há dias assim...

Há dias que já nascem diferentes, tem uma cor diferente… tem um riso que alcança a alma mesmo sem lhe tocarmos, parecem abraçar-nos e encher-nos de mimos sem os termos recebido, ou sequer estarmos na presença de alguém. Há dias que acordamos e os olhos brilham com a intensidade dos dias de verão… outros dias são escuros como a noite, onde impera o vazio, as trevas, o silêncio… e sem pensarmos desejamos passar levemente por eles e não nos detemos com medo de nos magoarmos, porque o arrepio na espinha já é o suficiente. Calamos o que se esconde lá no fundo, e nem deixamos os olhos falar… Há dias que temos vontade de gritar ao mundo as dores que carregamos para que nos oiça, e nos devolva a paz… Há dias que sem precisarmos abrir a boca, o coração se aquieta e sente-se selvagem, sem grades que o impeçam de voar… Há dias que são dias de amor, dias de semear… atirar ao vento os sentimentos mais nobres, e esperar que floresçam em rosas e dálias de cores vivas, de perfumes envolventes… Há dias que as tempestades em fúria derrubam tudo e nada deixam para colher, a não ser um réstia de esperança. Sim, aquela que apesar de tudo nos mantém ligados aos sonhos, aquela que acompanha sempre o nascer do sol de todas as manhãs. Há dias de sempre sorrir, mesmo que estes escondam as lágrimas salgadas… há dias que parecemos carregar o mundo nas costas como uma mochila cheia de pedras… há dias que nos livramos do cansaço, jogamos as pedras fora, erguemos a voz em tons mudos e arrebatamos o mundo nas mãos, sem deixar espaço para a tristeza, para a amargura, para a dor, e esquecemos o quanto custa caminhar todos os dias… Há dias que nos sentimos na beira da estrada sem rumo nem destino traçado, fazendo os dias mais longos que as horas… Há dias que nos sentimos mais leves que uma pluma no ar, nem precisamos de nos esforçar para respirar, que tudo flúi, as palavras ditas são as mais certas, até as pausas se fazem no minuto exacto… Há dias que não são dias, sem principio nem fim!
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